DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA – Parte II

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA – DISCALCULIA – Parte II

 

I Simpósio Internacional do Ensino da Matemática – Salvador-Ba – 18 a 20 de setembro de 2008

Palestra 17 – Dificuldades de Aprendizagem em Matemática – 19 de Setembro – Ivonete Sacramento

 

Resumo

As dificuldades que os alunos tem em Matemática, algumas de suas causas e caminhos que podem contribuir para que pais, professores e a equipe escolar possam identificar as dificuldades dos alunos e contribuir para seu êxito. A discalculia, suas características e diagnóstico.

 

Palavras chave: Dificuldades de aprendizagem, Matemática, Discalculia.

 

 

O diagnóstico

 

Na pré-escola, já é possível notar algum sinal do distúrbio, quando a criança apresenta dificuldade em responder às relações matemáticas propostas – como igual e diferente, pequeno e grande. Mas ainda é cedo para um diagnóstico preciso. É só a partir dos 7 ou 8 anos, com a introdução dos símbolos específicos da matemática e das operações básicas, que os sintomas se tornam mais visíveis.

 

É importante chegar a um diagnóstico o mais rapidamente para iniciar as intervenções adequadas. O diagnóstico deve ser feito por uma equipe multidisciplinar – Neurologista, Psicopedagogo, Fonoaudiólogo, Psicólogo – para um encaminhamento correto. Não devemos ignorar que a participação da família e da escola é fundamental no reconhecimento dos sinais de dificuldades.

Porém, devemos ter muita cautela quanto ao diagnóstico da discalculia ou qualquer DA. Apesar de o professor dizer que não faz um diagnóstico da criança, ele estabelece que as dificuldades de aprendizagem são possíveis transtornos específicos de aprendizagem, tendo como causas a imaturidade, problemas psicológicos e sociais, justificado assim o por quê da criança não aprender.

Antes de diagnosticar a discalculia, devem ser eliminadas outras causas de dificuldades, como o ensino inadequado ou incorreto; os problemas com visão; audição ou os danos ou doenças neurológicas e doenças psiquiátricas.

Devemos eliminar também a possibilidade de a criança apresentar acalculia ou pseudo discalculia.

A acalculia é a total falta de habilidade para desenvolver qualquer tarefa matemática, que geralmente indica um dano cerebral. O problema aparece quando a criança é incapaz de aprender os princípios básicos de contagem. A falta de habilidade se torna mais evidente quando vai aprender a ordem dos números de 1 -10 ou quando vai resolver uma simples adição de 4 + 2 = 6. O grupo de pessoas com acalculia representa menos de 1% da população.

A pseudo discalculia apresenta características semelhantes às da discalculia, mas é resultado de bloqueios emocionais. O estudante tem habilidade cognitiva para ter êxito em matemática. As meninas são a maioria esmagadora de estudantes com pseudo discalculia. Os comentários negativos dos meninos levam à falta de confiança. Para superar esta dificuldade o caminho são conversas com pais, professores e Orientador(a) Educacional; trabalho psicopedagógico para elevar auto estima da criança e, nos casos mais difíceis, acompanhamento de Psicólogo.

Efeitos

O desconhecimento dos pais, professores e até colegas podem abalar ainda mais a auto-estima do estudante com críticas e punições.

A discalculia pode comprometer o desenvolvimento escolar de maneira mais ampla.

Inseguro devido à sua limitação, o estudante geralmente tem medo de enfrentar novas experiências de aprendizagem por acreditar que não é capaz de evoluir. Pode também adotar comportamentos inadequados tornando-se agressiva, apática ou desinteressada4.

Alguns caminhos

A intervenção psicopedagógica propõe melhorar a imagem que a criança tem de si mesma, valorizando as atividades nas quais ela se sai bem; descobrir como é o seu próprio processo de aprendizagem – às vezes, ela tem um modo de raciocinar que não é o padrão, estabelecendo uma lógica particular que foge ao usual – e a partir daí trabalhar uma série de exercícios neuromotores e gráficos que vão ajudá-la a trabalhar melhor com os símbolos e com os jogos, que irão ajudar na seriação, classificação, habilidades psicomotoras, habilidades espaciais, contagem.

Quanto à gestão, é necessário que dê aos professores condições para que desenvolvam atividades específicas com este aluno, sem necessidade de isolá-lo do resto da turma nas outras disciplinas. Para isso, é importante disponibilizar:

§  Desenvolvimento profissional para a equipe de professores.

§  Tempo adequado para planejamento e colaboração entre eles.

§  Turmas com um tamanho adequado para o desenvolvimento do trabalho.

§  Profissionais e auxílio técnico apropriado.

As atividades interdisciplinares e transdisciplinares de cultura matemática são muitas. A tarefa central do professor é saber sistematizar a informação recolhida, organizar os tempos e os espaços adequados, tendo sempre presente os interesses, as motivações, as dificuldades, as potencialidades intelectuais relacionadas com a faixa etária dos alunos. Com o apoio necessário, o professor tem a incumbência de:

§  Planejar atividades que facilitem o sucesso do aluno, a fim de melhorar seu auto conceito e aumentar sua auto-estima.

§  Utilizar métodos variados.

§  Explicar ao aluno suas dificuldades e diga que está ali para ajudá-lo sempre que precisar.

§  Não forçar o aluno a fazer as lições quando estiver nervoso por não ter conseguido.

§  Propor jogos na sala.

§  Procurar usar situações concretas, nos problemas.

§  Permitir o uso de uma calculadora.

§  Oferecer fácil acesso às tabelas e listas de fórmulas (não exija que o aluno memorize).

§  Dar mais tempo para o aluno fazer a tarefa.

§  Utilizar recursos tecnológicos disponíveis.

 

Possibilidades

 

A discalculia pode ser curada?  

Sim. O diagnóstico discalculia é sempre apenas uma descrição do atual estágio de desenvolvimento, aplicável por um período máximo de um ano. Como a criança desenvolve, as dificuldades que existiam no ano anterior podem ter minimizado ou quase desaparecem. Se a criança está recebendo tratamento adequado, a possibilidade de desenvolvimento da capacidade matemática é grande. No entanto, muitas vezes algumas partes das dificuldades permanecem de uma forma suave. Por exemplo, as dificuldades em recordar fatos numéricos. É comum que os estudantes continuem a ter características destas dificuldades, de uma forma suave, em toda a vida adulta. A capacidade de concentração, no entanto, geralmente melhora consideravelmente, e muitas vezes vem com a compreensão de conceitos matemáticos e símbolos.

As avaliações são somente válidas por um tempo relativamente curto: Um ano para crianças e adolescente e menos de dois anos para adultos. Muitas vezes algumas partes das dificuldades permanecem de uma forma suave, por exemplo, as dificuldades em recordar fatos numéricos. É habitual que os estudantes irão continuar a ter características destas dificuldades, de uma forma suave, em toda a vida adulta. Capacidade de concentração, no entanto, geralmente melhora consideravelmente, e que muitas vezes vem com a compreensão de conceitos matemáticos e símbolos.

 

CONCLUSÃO

 

É um grande desafio identificar, diagnosticar e fazer as intervenções necessárias para que a aprendizagem do aluno seja satisfatória, para sua vida acadêmica e para sua auto estima. É necessário atenção para não rotular, condenando um aluno para o resto de sua vida.

As dificuldades de aprendizagem ainda são assunto pouco explorado nas escolas. O diagnóstico equivocado leva a encaminhamento para tratamentos desnecessários e à exclusão, tirando a oportunidade do aluno de superar suas dificuldades.

É preciso levar o tema para dentro da escola – não como assunto pontual, mas numa discussão permanente -, contemplando as diversas dimensões da vida do aluno, como mais um instrumento para seu desenvolvimento integral, visto que as dificuldades de aprendizagem não têm como causa apenas um fator.

 

 

Notas

1-       No conceito de DA incluem-se quaisquer obstáculos, intrínsecos ou
extrínsecos, que impedem um indivíduo de realizar uma determinada
aprendizagem.

2-       Conjunto de 10 organizações profissionais americanas, todas elas interessadas no estudo das dificuldades de aprendizagem.

3-       A dislexia é definida como um déficit no desenvolvimento do reconhecimento e compreensão dos textos escritos. A criança disléxica possui uma inabilidade para contar para trás de dois em dois ou três em três, ela não tem compreensão da ordem e estrutura do sistema numérico, dificuldade para aprender tabuada.

4-      Alguns comportamentos que causam problemas de aprendizagem complicando as dificuldades na escola:

Falta de controle dos impulsos – toca tudo ou todos que despertam seu interesse, verbaliza suas observações sem pensar, interrompe ou muda abruptamente de assunto em conversas, tem dificuldade para esperar ou revezar com outras pessoas.

Dificuldade para seguir instruções – pede ajuda repetidamente mesmo nas tarefas mais simples (os enganos são cometidos porque as instruções não são completamente entendidas.

Dificuldade de conversação – dificuldade em encontrar as palavras certas, ou perambula sem cessar tentando encontrá-las

Distração – freqüentemente perde a lição, as roupas e outros objetos seus, esquece de fazer as tarefas e trabalhos, tem dificuldade em lembrar compromissos ou ocasiões sociais.

Inflexibilidade – teima em fazer as coisas à sua maneira, mesmo que esta não funcione, resiste a sugestões e a ofertas de ajuda.

Fraco planejamento e habilidades organizacionais – parece não ter noção de tempo e com freqüência chega atrasada ou despreparada, não tem idéia de como começar ou de como dividir o trabalho em segmentos manejáveis quando lhe são dadas várias tarefas ou uma tarefa complexa com várias partes.

Falta de destreza – parece desajeitada e sem coordenação – geralmente deixa cair as coisas ou as derrama – ou apalpa e derruba os objetos, pode ter uma caligrafia péssima, é vista como completamente inepta em esportes e jogos.

Imaturidade social – age como se fosse mais jovem que sua idade cronológica e pode preferir brincar com crianças menores.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

GENTILE, Paula. Tropeçando em números. In http://crescer.globo.com/edic/ed77/rep_discalculia.htm

 http://discalculicos.blogspot.com/2007/04/discalculia.html

SMITH, Corinne; STRICK, Lisa.  Dificuldades de aprendizagem de A a Z. Um guia completo para pais e educadores. Trad. Dayse Batista. Porto Alegre: Artmed, 2001.  

WEISS, Alba Maria Lemme, CRUZ, Maria Lúcia R. A Informática e os Problemas Escolares de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 1999.

 

 

 

 

Deixe seu comentário